Ressaca literária e livros que curam
Tenho experienciado uma nova relação com os livros e as leituras que tenho feito dos dois últimos meses para cá. 2023 foi um ano bem frenético de leituras, se comparado com meu histórico de anos anteriores, consegui ler mais de 50 livros. São muitos livros, muitas histórias, muitos universos, perdi as contas das vezes em que fiquei obcecada por um livro e estava com ele o tempo inteiro, só sossegava ao terminar, foi realmente um ano de muitas e ótimas leituras, mas isso me esgotou completamente. Terminei o ano com uma ressaca literária que nunca vivi antes, basta começar a ler um livro que me vem uma sonolência insuportável, não me sinto conectada ou realmente interessada por nenhum dos romances que tento escolher, mesmo variando gêneros, autores, estilos.
Este relato é uma tentativa de fazer algo com isso ou compreender um pouco que seja do que tem me acontecido. Cansei de ser leitora? Minha cabeça atingiu o número suficiente de livros lidos na vida e simplesmente não quer saber de nada mais sobre leituras? Mas é uma parte tão importante de mim, os livros me salvaram várias e várias vezes, me lembro bem do início das minhas crises de pânico, que coincidiram com o começo da Covid, Gabriel García Marquéz me salvou com O Amor Nos Tempos Do Cólera. Todos os dias eu ansiava pelo momento de deitar no sofá e me perder naquele universo daquele que se tornaria o meu autor favorito. Como posso não me entristecer ao pensar em perder isto?
Ainda no período citado, um livro bobo de thriller me salvou. A mulher na janela esteve comigo durante muitas madrugadas, meu primeiro livro lido no Kindle, debaixo das cobertas, torcendo para amanhecer e eu finalmente conseguir adormecer. Nessa época eu lia por causa disso: precisava que os livros me salvassem. Escolhia um, o lia devagar, me deliciando com cada palavra, dando tempo para mim, para a leitura, para a história. Será isso o que mudou? Talvez a fome insaciável pelas leituras fez com que eu consumisse muito mais do que era capaz, então meu cérebro simplesmente travou, estafou, desligou para atualizar.
E o que posso fazer com isso? Continuar testando os livros, tentando ir aos poucos, pequenos passos, um por vez, me permitindo adentrar no universo e não apenas passar correndo sem tempo de refletir absolutamente sobre nada. Há algum tempo eu tento me policiar para não tentar consumir tudo que me é jogado na cara, ou que todo mundo está fazendo, ou o que todos estão lendo e é nesse caminho que pretendo continuar. Aprender a respeitar que, no momento, meu corpo precisa de outros estímulos, diferentes paixões, uma rotina em que a literatura continue presente, mas que não domine a minha vida.
Os próximos livros que tentarei engatar uma leitura ainda este ano serão com a companhia de queridos amigos, o que também me ajuda na motivação, na vontade de querer ler e comentar, compartilhar os pensamentos e sentimentos sobre os livros. Dentre os livros, vem o meu primeiro do Bolaño, Os Detetives Selvagens, que ouço falar tão bem e que espero que seja mais um daqueles livros que me salvam.